Representantes do agronegócio da América do Sul e de câmaras de comércio discutiram o acordo com o Mercosul e o Pacto Verde Europeu
A agenda ambiental da União Europeia foi criticada, nesta quarta-feira (13/9), por lideranças do agronegócio da América do Sul e representantes de Câmaras de Comércio de países europeus no Brasil. A avaliação é de que o bloco tenta estabelecer regras que podem prejudicar acordos internacionais e relações comerciais.
O assunto foi debatido no evento “Para onde vai: Mercosul/União Europeia”, promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e pelo Grupo de Países Produtores do Sul (GPS), que reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. O encontro foi realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Durante o evento, os debatedores destacaram a urgência da conclusão do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. A avaliação é de que, se não for implantado, os dois blocos vão perder oportunidades importantes. E, do ponto de vista do Mercosul, com efeitos negativos para a competitividade em relação a outros concorrentes, que também buscam seus acordos comerciais.
“Se não fizemos o acordo, o mundo segue girando, a geopolítica continua mudando, outros países vão negociando e vamos perdendo competitividade. O acordo é urgente para o futuro do Mercosul e seu fortalecimento como bloco”, argumentou Agustín Tejeda, diretor de Conteúdos e Comunicação do GPS.
Em sua avaliação, a percepção sobre sustentabilidade nos sistemas produtivos dos países do Mercosul é equivocada e usada por quem é contra o acordo com a União Europeia para impedir seu avanço. Para Tejeda, os países terão tempo de se adaptar ao sistema que surgirá depois da consolidação do tratado entre os dois blocos.
“As preocupações me parecem infundadas porque o acordo tem mecanismos de proteção para setores sensíveis. Estamos adotando práticas sustentáveis nos melhores padrões do mundo. É preciso um trabalho de maneira coordenada para medição de resultados de sustentabilidade”, acrescentou.
Para Renato Meirelles, representante do Conselho da Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil, o principal problema não está na sustentabilidade. Ele destacou que as regras ambientais no Brasil são as mais rigorosas do mundo, mas o país precisa saber comunicar melhor sua situação para o mundo.
“Não há nenhum país que tenha o índice de preservação consciente e de desenvolvimento sustentável como o Brasil tem. Não têm direito de nos chamar a atenção sobre algo que dominamos”, protestou.
Barbara Konner, representante da Câmara de Comércio Brasil Alemanha reforçou a avaliação de que o acordo está negociado e que os desafios apresentados pode ser convertidos em oportunidades. Segundo ela, tanto sul-americanos quanto europeus se beneficiariam de uma maior segurança jurídica e harmonização de regras.
“Temos que ter mais consciência do que somos e do porque não há mais opção”, disse. “Creio que a União Europeia está subestimando o governo brasileiro, já que precisa mais do Brasil do que vice-versa”, ressaltou.
Pacto Verde Europeu
Os participantes do evento questionaram também o Pacto Verde Europeu (Green Deal), que prevê sanções comerciais com base em questões ambientais. A União Europeia vem adotando critérios mais rigorosos, sob o argumento de evitar compras de produtos provenientes de áreas de desmatamento, o que atinge cadeias produtivas importantes para o agronegócio brasileiro, como soja e carnes.
“A União Europeia acabou se tornando o maior formulador e exportador de conceitos. E o Green Deal foi uma forma de trabalharem isso. Não vi em nenhum dos documentos que eles abririam mercados agrícolas”, pontuou o vice-presidente da Abag, Ingo Ploger.
O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, afirmou que o Green Deal, como o pacto é chamado, não está “bem desenhado para a nova realidade” mundial. Em sua avaliação, as regras do bloco europeu estão mais direcionadas para a sanção do que para a cooperação.
“Não vemos janela de abertura de mercado. Quem lê o texto vê mais sanções do que cooperação”, disse ele.
Marcelo Ragunaga, coordenador geral do Grupo de Países Produtores do Sul (GPS), reiterou sua avaliação de problemas globais devem ser discutidos de forma global, dentro do sistema multilateral. Neste aspecto, o Green Deal europeu questiona os mecanismos de governança global.
“Se estamos fazendo um acordo Mercosul União Europeia, plantar regras de jogo diferentes entre os países é gravíssimo. É uma falta de visão e de entendimento da realidade de outras regiões do mundo”, afirmou.